12 de abril de 2008

Cartas


Existem pessoas que rejeitam a modernidade e se aferram aos costumes e tradições. Tomemos como exemplo o hábito de escrever cartas. Quem persiste nessa prática argumenta que nada é mais sincero do que colocar no papel palavras cheias de carinho, vindas direto do coração, e acrescenta que nada se compara ao ato único e pessoal de escrever, do próprio punho, tudo o que lhe vem da alma. Finalmente, acredita que um envelope recheado de noticias, ao chegar ao destinatário, leva também um pouco das emoções do remetente. No filme brasileiro “Central do Brasil”, uma das cenas mais emocionantes é a de Dora: uma mulher de seus cinqüenta e poucos anos, professora primária aposentada, armada de mesinha e cadeira toscas, se posta na imensa e tumultuada gare da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ali, ela se coloca à disposição de analfabetos saudosos e carentes de uma comunicação com seus entes queridos. Por ironia, a velha professora, órfã e solitária, não tem para quem enviar cartas. Sua condição feminina sucumbe ao peso de uma vida vazia e depressiva; escreve cartas, menos por bondade e mais para enganar a solidão. Há também um complexo diabólico no ato dessa singular tradutora de sentimentos alheios: ela nunca envia as cartas que escreve. A própria atriz Fernanda Montenegro, quando na estação de trens, durante as filmagens, escreveu cartas sinceras e verdadeiras para dar realismo às cenas. Mais tarde, cheia de remorsos, confessa jamais ter enviado nenhuma delas. Mas o espectador, na sala mágica do cinema, pôde testemunhar a emoção daquelas pessoas humildes e crédulas, tentando resgatar a distância e a saudade.
García Marques, em sua primorosa obra “El Coronel no tiene quien le escriba”, registra a estória de um homem que espera 25 anos por uma carta com a indenização que lhe tiraria da miséria absoluta. Sempre às sextas-feiras, lá estava ele com sua roupa de festa, à espera do correio. Na verdade, o Coronel - mais do que ninguém - sabia que a espera era inútil, mas fechava os olhos à realidade e agarrava-se ao sonho impossível; não lhe restara alternativa. O livro é uma metáfora sobre a solidão e a velhice. A espera da carta era um antídoto contra a morte. Difícil imaginar tal situação na era da Internet. A tecnologia não alimenta esperanças vãs. As distâncias são vencidas em questão de segundos, e as mensagens chegam com precisão matemática. Não há espaços para ilusões.

12 comentarios:

ELCE dijo...

Y sin embargo nunca hubo más distancias que ahora. Internet no salva las distancias: las disfraza.

Anónimo dijo...

No Dia Internacional do Beijo, nao quero falar em cartas ou e-mails. Mas o artigo é belo e profundo. merece reflexão!

Anónimo dijo...

No tenia ni idea de que hi havia Dia Internacional del Bes. Però un dia així hi ha que conmemorar-lo, així que una besada molt gran per a tothom que participa en aquest blog.

Anónimo dijo...

En otra entrada del blog se relacionan fidelidad y memoria. Y la figura desvalida (en la foto) de Machado, D. Antonio, nos hace recordar que mediante otro Antonio, éste mucho más recordado en los años del franquismo,"los de siempre", consiguieron levantar a una parte de España contra la otra,en 1936. Otras "infidelidades":Guerras carlistas, expulsión de "afrancesados", Expulsión de los moriscos, expulsión, expulsión,... ¡Qué país tan.... PEDORRO!

Anónimo dijo...

O tema do artigo "Cartas" me remete ao clássico filme "Nunca Te Vi, Sempre Te Amei", em que Anthony Hopkins tornou-se um ator conhecido internacionalmente. O amor pelos livros aproxima os personagens de uma forma irresistível,e é por cartas que eles desenvolvem a paixão nunca consumada.

Anónimo dijo...

Una pel.licula que no oblidaré mai. m'agradaria poder fer el comentari amb portugués, però no tinc la facilitat d'algunes persones plurilingües( castellà, anglés, català o portugués). Quina enveja!

Anónimo dijo...

Son muchas las ventajas de internet, tantas que llegan incluso a sustituir al profesor en algunas de las actuales modalidades de nuestro actual sistema educativo, dejando un vacio muy grande en el eje fundamental de todo proceso de enseñanza-aprendizaje, que es la relación alumno-profesor. Asistimos a un proceso de desespersonalización muy grande y nadie le pone remedio. Simplemente, nos dejamos llevar.

ELCE dijo...

¡VIva el Iberismo bloggero!

Anónimo dijo...

No se trata de Iberismo, ni mucho menos.Sólo trato de desmitificar la gran panacea que el MEC nos ofrece, como gran innivación tecnilógica. No hay mas que sufrirla un poco para entenderlo.

Anónimo dijo...

As cartas dão um ar de pessoalidade, trazendo emoção como bem disse o texto, mas a internet também tem lá ares de sentimento - ela aproxima os que querem aproximação, por exemplo uma pessoa na Espanha pode falar facilmente com uma pessoa no Brasil, inclusive com o recurso de webcam!! Aproximando de forma fantástica pessoas que estão distantes. Mas importante lembrar que blogs e cartas não são inimigos! São complementares e todos servem para aproximar quando se quer! A individualidade não está na escrita, está nas pessoas! Exemplo disso é este blog que aproxima escritores de nacionalidades diferentes!

Anónimo dijo...

I can't understand what "Iberismo bloggero"means

Anónimo dijo...

Acho que quem levantou o tema "iberismo bloggero" está devendo uma explicação aos colegas de site. Que pode ser isto, que merece tanto entusiasmo do colega internauta?