O viajante já começa a recuperar-se de uma viagem cansativa de Brasília/São Paulo/Panamá/ Manágua/Guatemala, no caminho de Antigua.
“sorprende que a media hora de la capital se encuentre un rincón del mundo donde la historia se detuvo. Amplias casonas, calles empedradas, algunas iglesias en ruinas, otras en pie, la arquitetura del siglo dieciseis, la uniformidad de la época, la ausencia de modernidad me introdujeron a esta joya llamada Antigua”. (Marcela Serrano em seu romance - Antigua Vida Mía).
Impossível resistir; imagino quantos leitores teriam ido a Antigua influenciados por Serrano e seria capaz de apostar que nenhum deles se arrependeu.
Antigua (antiga capital da Guatemala) é tudo isso e muito mais: rodeada de três vulcões, Água, Fogo y Pacaya, a pequena cidade é a bela adormecida da América Latina. Testemunha do apogeu e gloria dos tempos coloniais, cumpre hoje seu papel de Patrimônio Cultural da Humanidade.
O vulcão Pacaya está vivo, e uma caminhada de três quilômetros, montanha acima, permite vê-lo, soltando fogo por todos os poros. Depois, da janela do Hotel Mesón de Maria, mandar-lhe um recado bem íntimo: “olha, você agora é figura conhecida e já não mete medo”.
Marcela Serrano ainda pode guiar o viajero pelas montanhas da Guatemala: “mis ojos quedaron casi cegados con la fiesta de colores que encontré en Chichicastenango. Simplemente los oros, sepias, tierras verdes olivos, azules, lilás y morados, en toda su gama”. A vida comercial dos masheños se desenvolve nesse mercado indígena de Chichicastenango, o mais importante da América Central. Há de tudo: flores, frutos, vegetais, animais, artesanatos e tecidos. As tribos são reconhecidas pela cor do tecido do seu vestuário e, mais do que em qualquer outro lugar do mundo, os índios têm enorme importância sociológica e econômica.
De Chichicastenango, uma estrada sinuosa conduz a Panajachel. O Lago Atitlan, um dos mais profundos do mundo e o vulcão Toliman proporcionam uma paisagem deslumbrante.
Mas, quando se está em território maia, é imprescindível visitar o Sitio arqueológico de Tikal, a quinhentos quilômetros ao norte de Panajachel, que impressiona pela riqueza de detalhes e simbologias. Prevalece nas construções das pirâmides a dialética entre o céu e a terra. Não são túmulos e sim observatórios astronômicos e é nítido o alinhamento de pontos das edificações, com estrelas e constelações determinadas. Num percurso de quatro horas mata adentro, com direito a canto de pássaros, assédio de macacos brincalhões e cobras assustadas, pode-se divisar importantes complexos arqueológicos. Do Templo IV, ou exatamente no ápice de suas intermináveis escadarias, a vista alcança cinqüenta quilômetros de uma mata virgem espetacular.
Quando chega a hora de voltar, o viajante ainda constata como foi bom passar tantos dias em contato com uma língua espanhola falada de maneira calma e doce, por pessoas simpáticas e hospitaleiras. Volta saudoso e capaz de entender melhor o poeta maia quiché, Humberto Ak’abal que diz em seu poema Recuerdo: “De vez en cuando camino al revés: es mi modo de recordar. Si caminara sólo hacia adelante, te podría contar cómo es el olvido”.
10 de mayo de 2008
Guatemala - Relato de una viajera
Publicado por ELCE en 22:11
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5 comentarios:
Bienvenida, Lu. Echábamos de menos tu voz de allende los mares. Muy hermosos y sabios los versos finales. JF.
Una novela estupenda, la de Marcela Serrano, por cierto.
O texto sugere uma viagem à Guatemala. Normalmente, quando se fala em América Central, pensa-se na diversidade das culturas azteca e maia, que forjaram um povo muito especial, os mexicanos. Quanta riqueza desconhecemos, quantos caminhos há para que possamos ter idéia primeira do mundo em que vivemos. Marcela Serrano, Panajachel, Antigua e a frase sábia de Ak´bal que tanto tocou a Elce! "Só sei que nada sei!" Verdade indiscutível!
Numa sociedade de corre-corre, competição e pensamentos apenas no futuro, que lindo o pensamento do "camiño al revés", de olhar para trás e pensar em quem somos e nos caminhos que percorremos pelo mundo...
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