Céu de Brasília

Brasília é uma ilha da fantasia, assim afirmam seus críticos. Os salários são altos, vive-se num “mundo do faz-de-conta” que não condiz com a realidade do País. Além disso, reclamam da lonjura do mar, da secura dos meses de inverno, da falta de esquinas, das ruas sem nomes, da monótona arquitetura que estabelece padrões de incrível simetria e, por fim, da terrível energia negativa trazida pelos políticos.
Não obstante a ação desses predadores, que estragam tudo o que tocam, a cidade tem seus encantos. Sua arquitetura é impressionante, única no mundo: pode-se dizer que a cidade é um museu de arte moderna a céu aberto. As cores claras dos prédios contrastam com verdes e planejados jardins, emoldurados por um imenso lago artificial, que ameniza o clima e enfeita a paisagem.
Mas, paradoxalmente, esta cidade tem algo que não foi planejado por nenhum arquiteto e sempre esteve aqui: o céu. Conforme a hora do dia, o firmamento nos oferece um cenário novo, e um mágico poente pode arrancar lágrimas de emoção de pessoas mais sensíveis.
Raros são os prédios com mais de seis andares, e isso facilita uma visão panorâmica do horizonte... um horizonte aberto, que leva a mil direções...
Mas é ao pôr–do–sol que a Natureza dá seu show mais deslumbrante! A umidade baixa faz com que uma fina camada de pó fique suspensa no ar e, no fim do dia, esse fenômeno inoportuno se transforma num espetáculo de luzes e cores indescritíveis. Vamos do vermelho ao roxo, passando pelo cinza e o lilás, como se fosse um viés, um bordado, um não-sei-quê de belo e indescritível. É quando a mente do mais rabugento crítico se desanuvia e pode extasiar-se, olhando a amplidão do Planalto Central. Até acreditar que a vida é mágica e, que, sem dúvida, Deus existe